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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O MERGULHO E A FISIOLOGIA HIPERBÁRICA

O mergulho com escafandro autónomo, de circuito aberto, com ar atmosférico está limitado à profundidade máxima de 80 metros. A esta profundidade atinge-se a pressão parcial, na mistura (oxigénio) de 1,2kg.p/cm2; a maior profundidade sofre-se, ao que se chama de "hiperóxia", ou seja a intoxicação pelo oxigénio. Numa explicação mais simples para os que não conhecem os pormenores, é como forçar as nossas células a consumirem oxigénio até ao limite (p/exp.: quando se abana uma fogueira activa-se a chama porque a estamos a enriquecer com oxigénio). Da mesma forma, quando se mergulha com escafandro de circuito fechado ou seja com oxigénio puro (caso dos militares ou fotógrafos submarinos, por não fazerem bolhas) a profundidade limite é de 12 metros. A esta profundidade atinge-se a pressão “parcial” de 1,2Kg. p/cm2. Este sistema é de utilização proibida a amadores.

Portanto existem dois sistemas de escafandro, os de circuito aberto e os de circuito fechado.

Quando se mergulha, o nosso corpo fica sujeito à pressão exterior que aumenta 1Kg. p/cm2, por cada 10 metros desde a superfície (pressão parcial). A pressão total é calculada, acrescentando 1Kg da pressão atmosférica a que todos estamos sujeitos ao nível do mar que varia ligeiramente com a temperatura (pressão atmosférica). Portanto quando mergulhamos a 30 metros estamos sujeitos à pressão parcial de 3Kg p/cm2, mais 1kg de pressão atmosférica, ou seja, à pressão total de 4kg.p/cm2. O ar atmosférico ao nível do mar é de 80% de azoto e 20% de oxigénio (os 3% de gazes raros não têm relevância no mergulho). 

O mergulho tem que ser, previsto, calculado pela profundidade máxima atingida e pelo tempo de duração, iniciando-se depois a subida até à superfície. Embora os modernos computadores de mergulho forneçam todas as informações necessárias para a subida, e todas as etapas atingidas, até a cadência respiratória, o mergulhador tem que estar preparado com todos os conhecimentos necessários teóricos para qualquer surpresa, para a eventualidade de qualquer avaria no computador.

Existem dois tipos de escafandro: autónomo e semiautonomo. Este último é o que está ligado à superfície por uma mangueira que fornece o gás respirável conhecido por “narguilé” ou cordão umbilical nos mergulhos de grande profundidade (saturação). Dentro destes dois tipos de escafandros são usadas várias misturas respiráveis: o “nitrox”, hoje usado pelos amadores e que se baseia na manipulação da mistura oxigénio/azoto, diminuindo este último gás, o azoto até 20%, aumentando assim o oxigénio na mistura, permitindo assim uma maior permanência e um menor período de descompressão, mas diminuindo a profundidade máxima permitida, porque se atinge, a menor profundidade, a hiperóxia.

O mergulho de saturação é próprio dos mergulhadores profissionais especializados (p/exp: Offshore), equipados por isso com escafandros especiais para o efeito e com misturas respiráveis que chegam, algumas, a ser secretas entre empresas multinacionais, que prestam esses serviços e possuem técnicos e laboratórios próprios de investigação. Lembremo-nos do caso do submarino Russo, o Kursk, cujo pedido de salvamento tardio foi solicitado à Noruega que possui tecnologia de mergulho a grandes profundidades.

Quanto à descompressão:
O tempo de mergulho conta-se desde que se começa a mergulhar (imergir) até que se começa a sair do fundo para a superfície (emergir).

Quando respiramos qualquer das misturas (oxigénio/azoto) usadas pelos amadores, o azoto, obriga-nos a paragens na subida que vão desde os 12; 9 até aos 3 metros abaixo da superfície (tabela da CMAS - Francesa) ou dos 10 até aos 5 metros (tabela da BSAC – Inglesa); a PADI Americana utiliza as tabelas Inglesas; os alemães utilizam, exclusivamente, uma tabela própria que é uma mistura das duas indicadas. São pouco divulgadas no exterior embora utilizadas, por eles, no mergulho amador, continuam a ser os mais rigorosos nas passagens de licenças e dos europeus que mais mergulham no estrangeiro.

O mergulho em altitude:
Quando mergulhamos num lago ou em qualquer outro local muito acima do nível do mar temos que fazer os devidos acertos à pressão atmosférica, com um altímetro e com tabelas próprias ou com os modernos computadores de mergulho que assumem de imediato todos os cálculos antes da imersão e dão, depois na subida, o tempo de descompressão.

A diferença do pré-afogamento em água do mar ou em água doce:
O nosso organismo é hipertónico como a água do mar, a água doce é
hipotónica
. Na água do mar uma pessoa em pré-afogamento, embora inunde os pulmões com água, esta não se dilui no sangue, ao contrário do que acontece na água doce. Assim, o salvamento no mar pode demorar cerca de 15 minutos até ao R.C.R., passado esse tempo qualquer pessoa se afoga, falece por asfixia. A água doce dilui-se, por osmose, no sangue provocando quase de imediato lesões cerebrais irreversíveis. Em qualquer dos casos sofre-se de enfisema pulmonar.

Os profissionais, no mergulho de saturação respiram hélio, árgon ou "hidrogénio" em substituição parcial do azoto. São precisamente estes gases que os obrigam às longas descompressões em câmaras especiais de superfície.

O oxigénio, como toda a gente sabe, é metabolizado pelo orgnismo, mas o azoto mistura-se no sangue e satura-o conforme a pressão exterior. P/exp: é como uma garrafa de água gasosa, quando lhe abrimos a tampa repentinamente, entorna, porque o gás nela saturado se libertou abruptamente. O mesmo aconteceria no nosso sangue se não procedêssemos à libertação do azoto (narcose) pelas vias respiratórias, com as paragens de descompressão. O mergulhador na descompressão deve manter uma maior amplitude respiratória; total expiração e média inspiração, embora o deva fazer, controladamente, durante todo o mergulho.

Porque a libertação de um gás saturado num líquido é mais rápida que a saturação, os mergulhadores ficam obrigados às tais paragens, antes da superfície, chamadas patamares de descompressão, já indicadas, segundo as tabelas referidas e consoante a que estiver a ser usada no momento da emersão. Um mergulho de 30 metros, sem obrigação a paragens de descompressão não deve durar mais que 10 minutos e a emersão deverá ser efectuada à velocidade de 1 minutos por cada 2 metros, num total de 15 minutos, desde o fundo até à superfície.

Mais dois acidentes podem ocorrer durante ou após o mergulho: A vertigem e a embriagues das profundidades. 

A vertigem tem por sintoma a perda do equilíbrio, o mergulhador deixa de conhecer onde fica a superfície, pode ser causada por uma lesão do ouvido, uma rotura do tímpano por bloqueio da Trompa de Eustáquio ou outras causas.

A embriagues da profundidade é causada pela incidência do azoto no sistema nervoso central e manifesta-se como uma embriagues alcoólica (comportamento hilariante) que normalmente ocorre após o mergulho. 

Por último; considerando que o ser humano não é portador de guelras e que só pode visitar o "MUNDO SUBMERSO" munido de ar "engarrafado" e que qualquer emergência na situação de submersão não lhe permite vir à superfície socorrer-se de ajuda, todos os problemas têm que ser resolvidos no fundo.

Nota: 99,9% dos acidentes no mergulho com escafandro, resulta a MORTE. É como dizia antigamente Fidel de Castro (amante do mergulho) "entrar é fácil, sair é que é pior".

Aviso inequívoco a todos os visitantes (a mais radical de todas as actividades) do Reino de Neptuno: A única forma de ir e voltar é obedecer às regras, conhecer os seus habitantes, o mar... obedecer-lhe e venerá-lo. 

José Douradinha.
Mergulhador amador CMAS, Grau 3; instrutor FPAS de mergulho em apneia e escafandro.

CMAS: Confederação Mundial de Mergulho;
FPAS: Federação Portuguesa de Mergulho.
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